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Foi um momento absolutamente histórico: o período ter tempo de antena na cerimónia dos Óscares. O feito foi conseguido graças a Period. End of Sentence, um documentário de 26 minutos sobre a história de um grupo de mulheres na Índia que produzem produtos de higiene acessíveis, combatendo o estigma contra a menstruação no país e em busca de independência financeira.
“Não estou a chorar porque estou com o período”, disse Rayka Zehtabchi, a realizadora do documentário. Com apenas 25 anos, Zehtabchi verbalizou de imediato aquilo que muitos dos que assistiam à cerimónia estavam a pensar: “Não acredito que um filme sobre menstruação acabou de ganhar um Óscar”.
Na verdade, o filme saiu vitorioso de todos os festivais por onde passou. A Academia fecha agora o ciclo consagrando-o com o prémio máximo da indústria.
A menstruação na Índia
A curta documental da Netflix – e disponível em Portugal – segue a história de mulheres numa zona rural perto de Deli, na Índia, onde, durante várias gerações, as mulheres não tinham acesso a produtos de higiene íntima.
Esta falta de acesso não só levou a uma série de problemas de saúde, como a outros problemas sociais, como a raparigas faltarem às aulas ou a deixarem de ir por completo. O ponto de viragem na história – e na vida real – dá-se quando um grupo de mulheres começa a produzir os seus próprios pensos higiénicos, através de uma máquina instalada na aldeia.
A mensagem de inspiração e empoderamento teve como ponto de partida uma iniciativa do outro lado do mundo, quando uma escola secundária na Califórnia começou uma organização sem fins lucrativos chamada The Pad Project, agariando dinheiro para a máquina que viria a revolucionar a vida das mulheres presentes na obra cinematográfica agora premiada.
Período: ainda um tabu
Apesar do simbolismo do momento deste domingo, a higiene íntima feminina continua a ser um tema longe de estar desmistificado. Num estudo de 2015, cerca e 88% de mulheres na Índia admitia usar jornais, folhas secas e outros objectos para absorver o sangue da menstruação.
Na Europa, apesar de a realidade ser menos dramática, o estigma persiste. Ainda na última semana, a atriz portuguesa Sara Barros Leitão partilhava no Facebook um texto que viria a ser partilhado em massa. “A menstruação continua a ser um tabu”, começava a jovem atriz por escrever.
E continuava: “Continuamos a pedir tampões ao ouvido de outras mulheres (às vezes desconhecidas), como se estivéssemos a vender droga. Continuamos a correr para a casa de banho com o penso higiénico debaixo da camisola como se estivéssemos a cometer um crime. O sangue dos anúncios de produtos para o período continua a ser azul. O sangue que sai da minha vagina todos os meses nunca foi azul. O sangue da minha menstruação é vermelho. É da mesma cor do sangue que vemos na cara dos actores do Game Of Thrones.”
Por isso, ainda que o período tenha tido pela primeira vez espaço na cerimónia dos Óscares, vale a pena lembrar que ainda há um longo caminho a percorrer.
