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Para qualquer prática de asanas equilibrada (seja aula guiada de grupo ou uma prática pessoal), convido-te a te preparares convenientemente para usufruíres de todos os benefícios da mesma. E como? Há alguns aspetos-chave que me parecem ser relevantes de uma forma geral, e há aspetos particulares que cada indivíduo deve procurar encontrar em si mesmo. Aqui vou falar de aspetos gerais:
- Tempo.
Procura identificar o momento do dia em que te sentes melhor a praticar (de manhã, ao final do dia, etc.) e organiza a tua agenda de forma a poderes encaixar o teu momento de prática nesse período de tempo. Seja qual for o momento, é importante tentares não praticar nas duas horas imediatamente a seguir a teres comido. - Espaço.
Quer pratiques em casa ou em estúdio, é importante que seja um local onde te sintas bem, confortável e em segurança. É também importante que seja um local minimamente tranquilo, livre de distrações. - Temperatura.
A temperatura afeta o corpo, assim como a mente. Muito frio torna os nossos músculos mais rígidos e aversos a relaxar, e a nossa mente pode tornar-se lenta e preguiçosa. Exigir demasiado do nosso corpo nestas condições, sobretudo sem o devido tempo de aquecimento, pode dar lugar a lesões. Em condições de muito calor, os nossos músculos ficam muito mais soltos e facilmente levamos o nosso corpo além dos limites. Então, quando vamos praticar é relevante termos em mente não só as condições atmosféricas, como também as condições em termos de temperatura do local onde vamos praticar. - Vestuário.
Tradicionalmente, os asanas eram praticados usando apenas um kaupinam (uma faixa retangular de linho ou algodão, enrolada em torno dos quadris e genitais). Hoje em dia, acredito que o mais importante é usar roupas confortáveis, em que te sintas bem e relaxada, independentemente do asana, mais do que roupas para impressionar ou tentar encaixar-se no “padrão”. A prática de asanas deve ser realizada com atenção plena e amor-próprio, e se estamos muito focados na aparência, isso vai direcionar a nossa prática para o domínio do mundano e do superficial. Mantendo o foco no conforto do vestuário, pessoalmente tento optar por roupas mais leves, em tecidos naturais, que deixem a pele respirar e transpirar livremente. - Condição física.
Quando falamos de condição física para a prática de asanas, não estamos de todo a falar de força ou flexibilidade. Relembrando um dos princípios fundamentais do yoga, sthira sukham asanam (firmeza, conforto e presença da mente), este é o mais importante estado. Em termos de condição física, é relevante abster-nos (ou adaptar) de praticar asanas se nos sentimos doentes ou extremamente fatigados – o que pode levar a lesões. Fazer uma pausa nas práticas de asanas pode ser benéfico em determinados momentos, e aí podemos aproveitar para nos voltarmos para a prática do Yoga em outros aspetos, observando os outros pilares do Yoga que vão além do tapete. Por outro lado, uma prática adaptada e gentil pode ser benéfica como forma de recuperar de estados de fadiga ou doença. - Condição mental.
De acordo com Patanjali, devemos procurar praticar asanas com uma mente livre de desejos, ansiedade, raiva ou medo. Uma prática sob uma mente instável, preocupada, ansiosa e chateada, pode causar mais agitação, ou até levar a lesões. Para usufruir da prática, devemos treinar a nossa mente para libertar emoções ou pensamentos perturbadores, no momento em que estendemos o tapete. Colocar o foco na respiração é talvez uma das melhores, e mais recomendadas, técnicas para enraizar e assentar no “aqui e agora”. - Não há duas pessoas iguais.
Este é um aspeto muito importante: deixar de lado o ego e escutar o próprio corpo, tornando a prática tão pessoal quanto possível. Costumo dizer nas minhas aulas que eu sou 1% professora, e cada aluno é 99% o seu próprio professor. Quer isto dizer que não devemos levar o nosso corpo para além do que ele é capaz naquele momento específico, e nem todos os dias estamos no mesmo ponto – há dias em que conseguimos ir mais longe em determinados asanas, há dias em que precisamos de ser mais gentis connosco mesmos. E nestes últimos, não tenhas receio de pedir ao professor variações na postura, estou certa que ele vai ficar mais que feliz por facilitar essas variações 🙂
Sara Sá estudou Comunicação Social, mas especializou-se em Relações Públicas e trabalhou 15 anos como tal. A paixão pelo Yoga levou a melhor e, deixando o emprego e vendendo tudo o que tinha, abriu no Porto o MANNA, um espaço onde partilha, com quem por lá passa, a sua filosofia de vida.