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O envelhecimento digital decorre da emissão de radiação de luz visível azul na pele. Atualmente é consensual: a pele envelhece mais depressa, e algumas patologias agravam-se, por estarmos cada vez mais horas em frente aos nossos dispositivos eletrónicos.
O que é a luz azul?
A luz azul é uma radiação no espectro da luz visível, com cor, que pode ser vista pelo olho humano. Imediatamente a seguir à radiação ultravioleta, é a luz no espectro visível que apresenta maior energia, sendo capaz de penetrar muito profundamente na pele, até ao tecido adiposo subcutâneo.
Emitida pelo Sol na sua forma natural, a luz azul não existe isolada, ou seja, está sempre acompanhada de outras radiações, o que garante um certo equilíbrio, e o corpo humano usa-a para regular os seus ciclos naturais de sono e vigília, no chamado ritmo circadiano.
Como fontes artificiais de luz azul, incluem-se os dispositivos eletrónicos, como smartphones, laptops e outros computadores, tablets, televisores, mas também as lâmpadas fluorescentes de baixo consumo de energia e as luzes LED.
Todas estas fontes emitem luz azul isolada — maioritariamente no comprimento de onda entre os 435 e os 455 nanometros (nm) — e causam o envelhecimento digital.
O lado negro da luz azul
A pele é o nosso maior órgão e tem uma função de barreira que é essencial à nossa sobrevivência, sendo a primeira linha de defesa contra agressões ambientais. Durante o dia, concentra-se na proteção, enquanto à noite repara os danos do dia que passou, preparando-se também para o dia seguinte.
Este ciclo de 24 horas é regulado e sincronizado por genes presentes em todas as células cutâneas. O cumprimento dos timings de exposição — e de não exposição — à luz é essencial para a saúde da pele.
A exposição noturna a luz azul artificial restringe a produção de melatonina, hormona que controla o ciclo de sono e que é essencial na reparação celular. Além disso, “confunde” diretamente as células da pele, fazendo-as crer que é de dia. Como tal, durante essa exposição, as células não se reparam, causando danos e acelerando o seu envelhecimento. As proteínas fotorrecetoras da pele e da retina saturam, deixando de ser capazes de absorver a luz azul, formando-se radicais livres.
Na epiderme, os radicais livres alteram os queratinócitos e, consequentemente, a barreira cutânea, causam hiperpigmentação e alterações de cor.
Na derme, afetam os fibroblastos, reduzindo as sínteses de colagénio e de fibrilina, componente das fibras de elastina, o que dará origem a rugas e flacidez, bem como a um aumento no tempo de cicatrização. Causam ainda vasodilatação, com consequente vermelhidão.
A dose faz o veneno, já dizia Paracelso
Deixe-se irradiar por esta playlist em tons de azul.
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Há alguns benefícios decorrentes da exposição controlada da pele à luz azul, nomeadamente no tratamento da acne, da psoríase, da dermatite atópica, do eczema, de algumas neurodermatites e até da depressão. A luz azul natural ajuda a regular o ritmo circadiano, potencia o estado de alerta, ajuda na memória e função cognitiva, e dá ânimo.
Quem precisa de proteção contra o envelhecimento digital?
Todos nós precisamos de tomar precauções contra os efeitos da luz azul, porque passamos muitas horas, diariamente, em frente a ecrãs.
O que fazer então?
Usar software que filtre a luz azul. A maior parte dos sistemas operativos de PCs e smartphones já incluem esta funcionalidade. Não use apenas à noite, mantenha-os sempre ativos.
Usar óculos com lentes que filtrem a luz azul. Esta será uma proteção valiosa para a pele do contorno de olhos.
Usar cosméticos que promovam esta proteção específica:
- Protetores solares: há alguns protetores no mercado que, para além da proteção contra a radiação ultravioleta, garantem ainda uma proteção contra a luz visível de alta energia, ou seja, contra a luz azul. Destacam-se aqui os filtros físicos, como o óxido de zinco e o dióxido de titânio, e ainda ingredientes como a melanina fracionada.
- Séruns e Cremes com ingredientes antioxidantes: cacau, carotenoides, extrato de esteva, de folha de argão, de fruto da gardénia, vitamina C, niacinamida, retinol, ácido ferúlico; ou ingredientes que ressincronizam o ritmo circadiano: alguns péptidos biomiméticos e o extrato de flores de açafrão.
Limpar muito bem a pele de manhã e à noite, e fazer uma esfoliação semanal. Estas duas ações ajudam na eliminação de poluentes exógenos que oxidam a pele.
E, claro, sair de casa. A luz solar tem o balanço perfeito do espectro e dá-nos, no tempo certo, tudo o que precisamos. Opte pela luz natural sempre que possível.
Lembre-se ainda que, para a sua pele, os cuidados de proteção contra a luz azul farão parte de uma abordagem global de cuidados, que passam pelos cosméticos, a nutrição e o exercício físico.
Farmacêutica de formação e especialista em Cosmética, Joana Nobre trabalha na Indústria Farmacêutica desde 2005. O rigor é a sua imagem de marca, algo bem patente nesta nova rubrica que criou para a Miranda, que incluirá sempre a versão áudio do texto e uma playlist de Spotify criada também por ela, alusiva com o tema.
Para a realização deste artigo, foram consultadas diversas fontes bibliográficas:
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Global Cosmetic Industry® The Beauty Innovator’s Resource, Skin Care 2021, March 2021.
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Dong, K. et al, Blue light disrupts the circadian rhythm and create damage in skin cells, International Journal of Cosmetic Science, 41, 558-562 (2019)
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Arjmandi, N. et al, Can light emmited from smartphone screens and taking selfies cause premature aging and wrinkles?, Journal of Biomedical & Physics Engineering, 8(4) : 447-452 (2018)
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Regazzetti, Claire et al Melanocytes sense blue light and regulate pigmentation through Opsin-3, Journal of Investigative Dermatology 138, 171-178 (2018)
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Vandersee, Staffan et al, Bue-violet light irradiation dose dependently decreases carotenoids in human skin, which indicates teh generation of free radicals, Hindawi Publishing Corporation, Oxidative Medicine and Cellular Longevity Volume 2015, Article ID 579675